Bancada evangélica quer “mais diálogo” com possível governo Temer
Mais de 90% da Frente Parlamentar Evangélica votou pelo impeachment
O rótulo de “conservador” vem sendo usado pela mídia no Brasil com uma conotação negativa, o oposto do “politicamente correto”, que parece mais desejável e tem como berço o marxismo cultural. Quando se fala da atuação de deputados e senadores evangélicos, já se tornou comum colocar todos dentro da chamada “Bancada da Bala, da Bíblia e do Boi” (BBB).
Embora tenham em comum aspectos bastante pontuais, com um ou outro parlamentar fazendo parte de mais de uma delas, acabam todos sendo equivocadamente jogados na mesma vala comum. O jornal O Estado de São Paulo publicou uma matéria nesta segunda (25) dando conta que a ala conservadora do Congresso está pressionando Michel Temer (PMDB), que pode ser em breve o presidente do Brasil.
Segundo o diário paulista, os evangélicos foram decisivos para a aprovação do processo de impeachment de Dilma. Sendo o placar final do plenário da Câmara 367 votos a favor e 137 contra, a proporção foi de 2,6 a favor para cada voto contrário. Entre a Frente Parlamentar Evangélica, a proporção foi a maior dentre as bancadas.
Em entrevista ao Estadão, o deputado Sóstenes Cavalcante (DEM/RJ), tesoureiro da Frente Parlamentar Evangélica, explica que, caso assuma, Temer precisa ter mais diálogo se quiser apoio no Congresso. “Já fomos até ele e sugerimos que ele crie uma interlocução oficial com a bancada BBB. Ele tem que entender que não é só interlocução com os líderes partidários que adianta”, alerta Cavalcante.
Para o democrata carioca, esse foi um dos principais erros dos governos do PT. No final da era Lula e, especialmente desde que Dilma assumiu o Planalto, “nunca mais houve uma interlocução para equilibrar a pauta da esquerda com as nossas. Pelo contrário, sempre fizeram questão de fazer confronto ideológico”, lamenta Sóstenes.
Mais de 90% da bancada evangélica votou pelo impeachment
Quando a mídia fala de “Bancada da Bíblia” inclui muitos deputados que afirmam ser católicos praticantes. A Frente Parlamentar Evangélica é composta de 92 membros. Durante as semanas que antecederam o voto pela continuação do processo de impeachment, a maioria de seus membros já sinalizava ser favorável.
Uma análise dos votos no dia 17 de abril aponta que mantiveram sua posição Benedita Da Silva (PT/RJ), George Hilton (PROS/MG), Fernando Torres (PSD/BA) e Sergio Brito (PSD/BA). O “indeciso” Fernando Torres (PSD/BA) ficou a favor de Dilma. Os baianos possuem compromissos (cargos de confiança) com o governador Rui Costa, que é do PT.
Alguns casos chamam atenção por sua postura. O deputado Hissa Abrahão (PDT/AM), por exemplo, foi contra a orientação do partido, votou “sim” e deve ser expulso da legenda por isso. Já Aguinaldo Ribeiro (PP/PB), mudou de ideia em um curto espaço de tempo. Quando foi avaliado o relatório da comissão especial (11/04) votou “não”, acabou seguindo seu partido no domingo e votando “sim”.
Entre as abstenções, a questão mais polêmica foi a ausência de Clarisse Garotinho (PR/RJ). Por estar grávida, pediu licença-maternidade e não estava em Brasília para a votação. Porém, sua decisão de requerer o afastamento por 120 dias, impossibilitou que seu suplente Marcelo (DEM/RJ) assumisse. Ele havia declarado que era favorável, mas segundo O Globo, foi por imposição de seu pai, Anthony após reunião com líderes do PT.
Sendo assim, com 5 votos contra e uma abstenção – que na prática ajudaria Dilma -a Bancada Evangélica teve 86 dos votos (93,5%) pelo impeachment e apenas 6 contrários (6,5%)