Cantor Evangelico Wellington Camargo diz ainda ter pesadelo 15 anos após sequestro
Há exatamente 15 anos, o cantor gospel Wellington Camargo, de 42 anos, passava pelo maior trauma de sua vida, ao ser sequestrado em Goiânia. Para ele, mesmo depois de tanto tempo, o sequestro “parece que foi ontem”. O irmão da dupla sertaneja Zezé Di Camargo e Luciano confessa que os dias de cativeiro não saem de sua memória. “Até hoje, tenho pesadelo com isso. Por incrível que pareça, ainda sonho que estou sendo sequestrado”, diz em entrevista ao G1.
Vítima de uma poliomielite aos 2 anos de idade, Wellington é cadeirante. Ele conta que sua vida mudou após o drama que viveu ao ser levado por quatro homens armados, na noite de 16 de dezembro de 1998. O cantor, que teve metade da orelha esquerda cortada pelos sequestradores, acredita que superou a maior parte dos traumas, mas reconhece que ficaram sequelas, inclusive em relação à sua saúde, já que passou a ter distúrbio do sono desde então. “Só durmo com calmante”, revela.
Outro problema é em relação a lugares e situações que o fazem lembrar dos 94 dias que esteve em cativeiro, em uma chácara a 27 quilômetros de Goiânia. “O barulho de porta fechando me lembra o de quando os sequestradores fechavam a porta. Dias desses, eu estava em um hotel simples no interior e o quarto parecia aquele em que fiquei preso. Tive que sair e mudar de quarto”, recorda.
Após o sequestro, o cantor diz que não anda mais sozinho. “Sempre tem uma pessoa do meu lado. Durante alguns anos, tive medo [de sair de casa], mas aprendi a não ter mais. Só evito sair à noite. Minha vida é diurna. Tenho medo é da violência urbana, a que qualquer pessoa está sujeita”, destaca.
Pior momento
No período em que ficou sequestrado, Wellington conta que sofreu agressões verbais e físicas. “Eles me davam tapas na cabeça. Me agrediam porque perguntavam coisas da minha família e eu me negava a responder”.
No decorrer das negociações, os criminosos reduziram o valor pedido inicialmente no resgate, de US$ 5 milhões para US$ 300 mil. O dinheiro foi pago em 20 de março de 1999. Wellington diz que naquele dia passou a situação mais desesperadora, maior até mesmo do que quando teve parte da orelha cortada como prova de que estava vivo, uma semana antes.
“O pior momento foi pouco antes de eu ser libertado, porque não sabia o que estava acontecendo. Não sabia se ia ser solto ou assassinado. Eu era um passaporte para eles. E ouvi que eles já estavam com o dinheiro”, lembra. No entanto, Wellington garante que nunca teve medo de morrer: “Eu tive cisma. Na morte, nunca acreditei. Sempre acreditei muito em Deus”
O cantor lembra que reimplantou a região da orelha que foi cortada pelos criminosos. Após passar por seis procedimentos cirúrgicos, a situação, segundo ele, está normal. Mesmo com toda a pressão psicológica sofrida, Wellington diz que não fez tratamento psicológico. “Não deu tempo. Talvez seja esse o problema”, explica.
Tensão e resgate
Wellington Camargo foi sequestrado às 22h40 do dia 16 de dezembro de 1998 em sua casa, no Jardim Europa, em Goiânia, por quatro homens armados. O primeiro contato dos sequestrados com a família foi feito cinco dias depois. Na ocasião, Wellington conversou por telefone com o irmão Emanoel Camargo, que era o porta-voz da família nas negociações.
Na madrugada do dia 13 de março de 1999, os sequestradores enviaram a uma emissora de televisão de Goiânia um pedaço da orelha de Wellington e um bilhete, para pressionar a família a pagar o resgate. Após dois dias, exames confirmaram que a orelha era mesmo da vítima.
O resgate no valor de US$ 300 mil foi pago em 20 de março. No dia seguinte, Wellington foi deixado pelos sequestradores dentro de um buraco, a 150 metros de uma estrada vicinal, entre Goiânia e Guapó, na Região Metropolitana. “Eles me deixaram drogado, achando que eu não ia ter condições. Quando retomei as forças, acreditei que ia passar por aquilo e vencer”.
O cantor saiu do matagal e foi encontrado por dois motociclistas, que o reconheceram. Em forma de agradecimento, Wellington doou um carro para cada um dos homens que o ajudaram.
Após o resgate, ele lembra que a primeira coisa que fez foi abraçar o filho, então com 5 anos. “Sonhava com ele. Ele sempre foi muito apegado a mim”. O cantor ainda recorda que estava com desejo de comer biscoito de polvilho. “Não sei quem fez, mas pedi. Estava com desejo, comi muito”.
Em 23 de março de 1999, três dias após o pagamento do resgate, sete dos dez acusados de participarem do sequestro de Wellington foram presos em Campo Grande (MS). No dia 24, eles foram transferidos para Goiânia. Os outros três integrantes da quadrilha acabaram presos posteriormente. Eles faziam parte de um grupo conhecido como “Quadrilha dos Oliveira”, que, segundo a polícia, era chefiado por Osmar Martins e Ozélio Oliveira.
A condenação de sete acusados presos ocorreu em novembro de 1999. Os demais, como ainda estavam foragidos, foram julgados em processos separados. O Tribunal de Justiça de Goiás não soube informar a data em que eles foram condenados.
José Luiz Montanha e Lázara Fernandina Farias, que acolheram os sequestradores em Campo Grande, foram condenados a seis meses de prisão. Mas, como eles ficaram aguardando julgamento durante esse período, ganharam a liberdade logo depois.
Apontado como o homem que cortou a orelha de Wellington no cativeiro, Osmar Martins foi assassinado na Penitenciária da Papuda, em Brasília, em setembro de 2000. Já Ozélio de Oliveira está detido na Penitenciária Estadual de Piraquara, no Paraná.
Outro condenado pelo sequestro, José Francisco de Oliveira está preso no Complexo Prisional Odenir Guimarães, em Aparecida de Goiânia. Também envolvida no crime, Tatiane Martins teve concedido seu pedido de progressão de regime fechado para semiaberto em 2006. Atualmente, ela já cumpriu a pena prevista e está em liberdade.
Os sistemas penitenciários dos estados onde os demais condenados estariam cumprindo a sentença não se pronunciaram até a publicação desta reportagem.
Música e política
Morando atualmente em um apartamento na capital goiana, Wellington diz que passa a maior parte do tempo viajando, dedicando-se à carreira musical, que ele iniciou após o sequestro, no fim de 1999. Wellington tornou-se compositor sertanejo, mas agora também é cantor gospel.
Ele já lançou cinco CDs e vendeu mais de 3 milhões de cópias. Em um ano, somou mais de 180 apresentações pelo país. Este mês, está em turnê pelo Nordeste, o que deve se encerrar no dia 28, no Maranhão. “É uma sensação nova a cada apresentação. São pessoas que vão ali para te ver. Milhares de pessoas cantando juntas. Faço de tudo para retribuir isso”.
Entre as turnês, Wellington sempre tenta ficar com os filhos, que têm 20, 11 e 5 anos de idade. “É difícil ver o crescimento deles, mas tento dar o máximo de presença. Procuro ir ao shopping, cinema e estar com eles em casa”, afirma.
O próximo passo na carreira será lançar um DVD. “Em abril, vamos desenvolver o projeto e devemos gravar logo em seguida”, adianta.
Assim como a música, a política é outra grande paixão de Wellington. “Elas sempre andam juntas”, acredita. Deputado estadual em Goiás de 2002 a 2006, ele afirma que não tentou a reeleição pela dificuldade em conciliar as viagens com o plenário. Apesar disso, nega que tenha abandonado a política: “Na verdade, eu não saí. Fui secretário de governo, nunca deixei de estar dentro da política. Atualmente, faço parte da assessoria do governador”.
Filiado ao PSL, o cantor afirma que pretende se candidatar novamente. “Agora, com minha experiência de vida, creio que consiga conciliar a música com a política. Pretendo me candidatar em 2016. Se fosse agora, seria para deputado federal”.
Wellington conta que ingressou na vida pública pensando em lutar, principalmente, por três causas: “Entrei na política para defender a bandeira das pessoas com necessidades especiais, o estatuto idoso e combater a violência. Sei que é impossível acabar com a violência, mas quero criar projetos”, conclui.
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