Vitor Belfort quebra silêncio sobre doping
Lutador cristão comenta caso polêmico na véspera de mais um combate
Lutador brasileiro mais popular das últimas duas décadas, cristão e pai de família exemplar, o carioca Vitor Belfort convive com uma suspeita desde o início de sua carreira, que o persegue até hoje.
Seria ele um lutador desonesto, que utiliza o recurso do doping para prevalecer sobre os adversários? A suspeita que o persegue e, para muitos, mancha sua biografia é basicamente calcada em dois fatos: sua esplêndida explosão muscular, que apresenta desde os 19 anos, e o flagra por doping em 2006, após a derrota para Dan Henderson no extinto Pride.
Mas fora o flagra citado acima (posteriormente justificado junto a Comissão Atlética de Nevada, que regula o esporte no estado americano onde a luta ocorreu, com o atestado de um médico que afirmou ter ministrado uma substância ilegal no lutador sem ele saber), Belfort passou ileso pelos demais testes a que foi submetido ao longo da carreira.
Recentemente, porém, ao adotar o popular TRT (Tratamento de Reposição de Testosterona – sintética), que já era utilizado por outros lutadores americanos com problemas na produção de testosterona como ele, o assunto voltou à baila. Em 2013, no auge do tratamento, Belfort conseguiu três marcantes vitórias e em todas elas apresentou um físico invejável, apesar dos 36 anos.
Em comparação com o físico que vinha apresentando anteriormente, houve um ganho de massa muscular notório. O brasileiro parecia reagir ao tratamento de maneira visualmente mais perceptível que os americanos que o utilizavam (como Chael Sonnen, antigo rival de Anderson Silva, e o próprio Dan Henderson), trazendo maior atenção ao TRT.
Com isso, um debate em torna da legalidade do tratamento se levantou, com protestos de lutadores mais jovens como Chris Weidman, atualmente campeão dos médios do UFC e último algoz de Belfort, que caracterizava à regalia que as Comissões permitiam a lutadores mais velhos com problemas na produção de testosterona como injusta.
No fim, a corrente que criticava o TRT saiu vitoriosa e o tratamento foi banido, o que levou Belfort a praticamente perder um ano de sua carreira – 2014 -, para se “limpar” e preparar para lutar novamente sem tratamento.
Durante toda essa história, e mesmo no começo de sua carreira, Belfort evitou comentar o tema e dar sua opinião, limitando-se apenas a dizer que “TRT não ensina ninguém a chutar” (ele venceu as três lutas marcantes de 2013 com o recurso dos chutes, uma novidade em seu arsenal).
Na semana passada esse panorama mudou e ele finalmente quebrou o silêncio sobre o polêmico caso envolvendo sua luta contra Jon Jones, quando ele teria se apresentado com níveis de testosterona elevados e, mesmo assim, recebeu autorização do UFC para realizar o combate – fato revelado por uma reportagem do site americano “Deadspin” em Setembro, com contornos conspiratórios.
De acordo com o lutador, que conversou com o programa americano Inside MMA dias após negar uma entrevista por não querer tocar no assunto, o UFC estava ciente desde que a luta com Jones começou a ser negociada que ele já estava fazendo tratamento com TRT.
“Eu estava começando meu tratamento e tinha a aprovação do meu médico e do UFC, então, eles precisavam de alguém que entrasse lá e lutasse (com Jon Jones). Eu me ofereci, compartilhei todos os meus testes e exames com eles, um acabou vazando para o público, sem querer eles compartilharam uma informação privada, mas tudo tinha sido aprovado”, declarou Belfort.
Belfort ainda explicou que sempre foi transparente sobre o assunto, dando detalhes para a mídia sobre todas as etapas do polêmico tratamento que realizou. O lutador ressaltou ainda que, por ele, o TRT seria permitido até hoje, mesmo com todas as controvérsias que isso trouxe para sua carreira.
“Eu fui aprovado pelo UFC e pela Comissão, entende? Eu fui lá sem treino para uma luta contra Jon Jones e ainda quase o finalizei. Não é fácil (lutar atualmente), pois eu ainda preciso do tratamento, eu gostaria de ter o tratamento, mas ele foi banido do esporte”, salientou Belfort.
Neste sábado Belfort lutará contra outro ex-adepto do TRT, o americano Dan Henderson, no UFC Fight Night 77, realizado em São Paulo. A transmissão do evento pelo Canal Combate começará às 20h, horário de Brasília. Com informações do UOL