Cristãos indianos “perdem” identidade pátria por religião ser considerada estrangeira
Segundo o hindutva, ideologia dominante no país, o verdadeiro indiano deve professar a religião hindu.
Duas semanas atrás, Narendra Modi foi empossado para um segundo mandato como primeiro-ministro da Índia. Seu partido, o BJP, obteve uma vitória retumbante nas eleições parlamentares.
Além dos seus rivais políticos, do Partido do Congresso, os grandes perdedores com a vitória de Modi são os cristãos indianos.
A preocupação está relacionada ao hindutva, que é a ideologia dominante do BJP. Ela diz que o “hinduísmo” define o que significa ser um indiano em termos religiosos, ou seja, um indiano verdadeiro deve ser hindu.
O hindutva considera o cristianismo como religião estrangeira e, portanto, qualquer indiano que afirme ser cristão é não é verdadeiramente um indiano. De acordo com essa ideologia, o hinduísmo é central para o que significa ser um indiano.
Enquanto a maior parte do mundo vê erroneamente a Índia como uma terra de Gandhi, gurus e não-violência, não há nada pacífico ou tolerante sobre Hindutva. Por exemplo, o homem que assassinou Gandhi era um adepto de Hindutva que sentiu que Gandhi havia traído a comunidade hindu.
No período que antecedeu a eleição, um candidato do BJP chamou o assassino de Gandhi de “um patriota”.
Embora Modi tenha denunciado os comentários, eles são consistentes com os princípios de Hindutva. Mais preocupantes são os muitos exemplos de perseguição de cristãos inspirada em Hindutva na Índia, especialmente nos cinco anos desde que o BJP chegou ao poder pela primeira vez.
Nas semanas que antecederam a eleição, houve relatos de “privação de alimentos, espancamentos e prisão” dirigidos a cristãos convertidos no estado de Jharkhand, no leste da Índia.
Preocupações
A Portas Abertas explica a complicada situação dos cristãos: “Os nacionalistas hindus radicais veem os seguidores de Jesus como estranhos à nação, todos os cristãos na Índia estão sofrendo perseguição. Impulsionados pelo desejo de purificar seu país do islamismo e do cristianismo, os nacionalistas não se esquivam de usar violência extensiva para alcançar seus objetivos”.
Segundo o comentarista cristão John Stonestreet, arte da campanha para limpar a Índia dos cristãos envolve leis anticonversão.
“Pelo menos seis estados indianos efetivamente proíbem conversões para o cristianismo. Eu digo ‘efetivamente’, porque os nacionalistas hindus descobriram uma maneira de contornar a liberdade de religião garantida na constituição indiana. Qualquer conversão que resulte de ‘força, sedução ou meios fraudulentos’ é ilegal. Dada a imprecisão desses termos, a lei indiana capacita autoridades locais ideologicamente orientadas a considerar todas as conversões como culpadas até que se prove que são inocentes”, explica.
Por todas essas razões e mais, a Índia atualmente ocupa o décimo lugar na Lista Mundial de Perseguição da Portas Abertas, que é onze pontos a mais do que quando o BJP assumiu o poder pela primeira vez.
Existem mais de 30 milhões de cristãos na Índia, e há algumas razões para acreditar que esse número pode estar significativamente subestimado.
De acordo com Stonestreet, os cristãos indianos estão corretamente preocupados com o que o triunfo de Modi significa para eles.
“Nós deveríamos nos preocupar também. Afinal de contas, ao contrário da ideologia hindutva, o cristianismo não é uma importação europeia. Existiu na Índia antes de Paulo chegar a Roma. Algumas igrejas no sul da Índia até adoram em um ramo do aramaico, a língua que Jesus falou”, esclarece Stonestreet.