Fabio Porchat diz que “fã-clube de Jesus tem se mostrado bastante perigoso”
O humorista faz piada da situação e diz que “está rindo de quem está batendo”, ao se referir aos cristãos.
Retratando Jesus como um bad boy envolvido com drogas e Deus todo tatuado e louco por mulheres, o especial de Natal do Porta dos Fundos continua debochando da fé cristã e da Bíblia.
Em busca de mais polêmicas, porém, logo após o lançamento na última quarta-feira (15), na plataforma de streaming Paramount, a produção já se tornou alvo de ações na Justiça.
Após receber diversas críticas nas redes sociais, a animação “Te prego lá fora”, assinada por Fabio Porchat, que faz uma ilusão insana sobre a adolescência de Jesus Cristo, sofreu uma ação no TJ de SP, como explica o jornalista e colunista do Globo, Ancelmo Gois.
“A gente está rindo e brincando com pessoas que não sofrem por serem quem são, e é um pouco isso que o Porta dos Fundos sempre tentou fazer: Não rir de quem está apanhando, mas rir de quem está batendo, e ultimamente o fã-clube de Jesus tem se mostrado bastante perigoso e bastante triste”, disse em entrevista à Folha de S. Paulo.
O humorista já afirmou que “não acredita em nada” e que, para ele, “a fé em Deus é uma grande invenção da humanidade, usada para tornar a vida mais suportável”. Em suas declarações, em 2019, chegou a dizer que “acreditar na Bíblia é uma maluquice”, mas que “respeita” as crenças das pessoas.
Questões judiciais
A Associação Centro Dom Bosco entrou com uma ação contra as empresas que administram a Paramount no Brasil e o próprio Porta dos Fundos. Segundo a associação, o pedido de censura contra o novo especial tem a “necessidade de proteger o sentimento religioso de uma violação grave”, conforme O Globo.
Por outro lado, Porchat diz que, pela primeira vez, está apresentando o conteúdo em animação para “ter uma liberdade maior” em relação ao projeto, ele explicou durante uma entrevista a jornalistas.
Foi assim que o humorista decidiu falar sobre a adolescência de Jesus, período pouco retratado na Bíblia e que, portanto, ele teria mais espaço para criar. Sua criação, porém, reivindica uma liberdade que fere valores e princípios cristãos.
Por esse motivo, a petição cita a “onda de intolerância contra aqueles que professam alguma religião”.
Sobre o novo especial de Natal do Porta dos Fundos
Além da imagem deturpada de Deus e Jesus na trama, Maria é uma mulher separada que cuida de mais um filho, que seria o irmão mais novo do Messias. Jesus é um adolescente que está se adaptando à nova escola que se chama Eva & Adão.
“Eu entendi que a gente podia ter um olhar sobre Jesus ser humano, e não só sobre o filho de Deus”, defendeu Porchat. “É um Jesus que ainda está aprendendo a lidar com os seus poderes. Ele ainda não sabe lidar com essa raiva, com esse ódio, não sabe lidar com as injustiças, ele ainda não é o Jesus Cristo”, continuou.
“Pegar personagens como Deus e deixá-lo meio maluco, meio escroto […] Brincar com eles e torná-los humanos é o que me interessa”, explicou. Numa das cenas, Jesus vai a um prostíbulo e diz: “Isso não é de Deus”. Ao que outra pessoa afirma, apontando para uma das garotas de programa: “Na verdade, aquela mais alta ali é exclusiva de Deus”.
Críticas, ataques e polêmicas
Na Bahia, a deputada estadual Talita Oliveira (PSL), apresentou uma moção de repúdio na Assembleia Legislativa do estado alegando “como produto de péssima qualidade feito por quem apenas falhou na vida”.
Desde 2013, o Porta dos Fundos publica especiais de Natal com sátiras religiosas. O filme de 2018, intitulado “Se beber, não ceie”, venceu o Emmy Internacional por melhor comédia.
Em 2019, grupos religiosos moveram uma campanha contra o filme “A primeira tentação de Cristo”. Na história, Jesus (Gregorio Duvivier) está prestes a completar 30 anos e é surpreendido com uma festa de aniversário quando volta do deserto, acompanhado do namorado, Orlando (Fábio Porchat).
A sátira com um Jesus gay fez com que muitos cristãos pedissem a censura da produção. Na madrugada da véspera de Natal, em 2019, a sede da produtora, na Zona Sul do Rio de Janeiro, foi alvo de um ataque e dois coquetéis-molotov foram lançados contra a fachada do imóvel.
Em janeiro de 2020, a justiça do Rio de Janeiro determinou que a produção fosse retirada do ar. Dias depois, o Supremo Tribunal Federal derrubou a decisão e liberou a exibição do especial natalino.